Bem sei que o som característico da década de 80 é muito plástico-electrónico.
Bem sei que muitos dos cantores e bandas foram "one-hit wonders" que desapareceram do panorama musical.
Até sei que os conteúdos das letras eram em grande parte muito ocos.
Mas o fascínio não desapareceu. Antes pelo contrário. Da minha parte, há-de sempre merecer uma atenção muito especial - aliás, tenho uma certa fixação (para não dizer paranoia...) por encontrar todos e quaisquer cds (compilações ou não) referentes a esses anos.
Como explicar isto? Se calhar é tão fácil quanto a música que se fazia. E tem tudo a ver com a noção de escassez (que consuz invariavelmente à valorização). As horas intermináveis que passávamos a ouvir programas de discos pedidos na rádio, para, assim que o locutor se calava, carregarmos no botão com o símbolo vermelho redondinho (REC) e rezarmos para que não houvesse interrupções durante as canções ou para que a nossa mãe não entrasse na sala aos berros, já que o rádio gravava tudo.
A existência de programas míticos na televisão (e lembrem-se que estou a falar do tempo da televisão com 2 canais e em que ninguém sequer sabia o que era isso de televisão por cabo), como o "ViváMúsica" (RTP1), apresentado pelo Pego, ou o "European Countdown" (RTP2), em que um rapazinho britânico de nome Adam nos trazia actuações ao vivo e videoclips das bandas do momento; estes eram minutos que religiosamente nos prendiam ao écrã, devorando os sons que nos apresentavam (tal como as tardes de Sábado, que tinham sempre na sessão de cinema televisivo "Aventura é Aventura" um momento de realce; isto e a Galáctica, etc etc).
Hoje em dia, tais comportamentos parecem anedóticos, já que vivemos numa sociedade em que tudo se descarrega da net e em que há centos de canais temáticos nos quais podemos consumir filmes ou música durante horas a fio se quisermos.
No entanto e não obstante o facto de haver tanta coisa à disposição, na altura dava muito mais gozo.
Ainda me lembro de gravar as músicas dos Europe por cima duma cassete do Marco Paulo (!); ainda me lembro da felicidade de o meu pai me ter comprado uma cassete do Nik Kershaw na feira (!). Ainda me lembro de ter suores frios a ver o teledisco do "Touch Me" da Samantha Fox!
E hoje gosto de ouvir, às vezes repetidamente, estes sons e outros que tais. Não por saudosismos patéticos, mas porque, além de terem uma certa personalidade própria, ficaram num recanto destacado da minha memória. E quem não tem memória não tem história.
Por isso, e apesar de poderem ser considerados foleiros, vazios ou desactualizados, serão para mim interessantes, preenchidos de recordações e serão para sempre actuais.