O título explica tudo, não? São teorias cá do Ventura, bem-aventuradas (se os visitantes assim o quiserem) e, apesar de paranóicas, até farão algum sentido. E...na pior das hipóteses, pelo menos darão para sorrir.

sexta-feira, março 10, 2006

Inveteradamente dependente me confesso...

Gosto de música. É sabido. Talvez até demais (o que por vezes me causa alguns dissabores com quem considera que a minha atenção é, não raramente, dirigida em excesso para assuntos musicais, em prejuízo de assuntos mais pessoais). Gosto de cantar. Gosto de tocar instrumentos. Gosto de dançar. Até aqui tudo normal. O “problema“ é que meu gosto vai tão longe que chega a meter impressão. Não sei se será doença, mas, na dúvida, estou a tentar pôr um travão a mim mesmo. Talvez não acreditem, mas uma das coisas que mais gozo me dá é quando, após ter comprado um cd ou dvd musical (e acreditem que já fiz isso uns bons centos de vezes), assim que chego ao carro, sento-me e desato a rasgar descontroladamente o plástico que envolve o(s) item(ns) adquirido(s). A sério! É para mim um gosto, colocar o cd pela primeira vez no autorádio, enquanto observo o desenho do cd, abro o inlay e procuro informações. E muitas vezes enquanto já estou a conduzir… (Eu sei que não devia, mas só estou a ser 100% honesto, ok?)
“É uma paranóia que não se percebe!”, pensa metade da minha cabeça, provavelmente constituída pelos mesmos neurónios que me fazem tremer de arrependimento cada vez que, incapaz de resistir à tentação, me vejo a chegar com um cesto cheio às caixas da Worten ou da Box. “Tu é que não sabes o que é bom!”, grita-lhe a outra metade, aquela mesma que me conduz, em estado de quase-transe, pelas imensas prateleiras e que me leva a contemplar fileiras inteiras em busca de algum nome ou capa que me diga algo ao coração (e à bolsa!). A luta entre este anjinho e este diabinho é uma coisa esgotante, logo a partir do momento em que estou naquele limbo entre a paixão e a razão, a tentar decidir se me desloco ou não a determinado local, hipermercado ou não. Frequentemente, o meu lado irracional tenta disfarçar perante a minha consciência, dizendo-lhe: “Ah, vou só ao Continente para comprar uma embalagem de Chipicao e depois, se houver tempo, passamos pela loja de música…” Puro engano! 90% das vezes nem sequer chego a entrar na parte de supermercado, pois aquele campo gravitacional emitido por cds e dvds arrasta-me irremediavelmente para lá, prendendo-me ali às vezes horas, imunizando-me contra fome ou cansaço e apenas me libertando no fim de me ver marcar o código do cartão Multibanco… É verdade que a parte consciente acaba por lançar alguns ataques conseguidos, pois, dos 10 ou 15 cds que o irracional quer trazer (uns porque já conhece, outros para conhecer, outros porque estão “demasiado baratos para recusar”, etc etc), acabam por regressar aos escaparates mais de metade deles, gritando inconsoláveis, implorando-me que um dia regresse para os salvar da impessoalidade daquelas prateleiras, levando-os para o conforto da minha “musicoteca”. E muitas vezes, o apelo é atendido…Sou mesmo uma criatura irracional! Ou melhor, era! “Sim, porque a partir deste mês a coisa vai ser diferente”, garantem os meus outros neurónios, que se aliaram ao cartão Multibanco, cansado e gasto pelo uso. “A desintoxicação começou!”, garantem.

quarta-feira, março 08, 2006

O Dia Internacional da Gaja

"É hoje! É hoje!", gritam, com ares afectados, numa mescla de agitação hormonal do género pré-menstrual, as mulheres à minha volta. Revelam um ar de afirmação moral, de quem pensa: "Aaaaaah! Pelo menos hoje estou por cima!" (suas perversas, sempre a pensar no mesmo!) "Pronto", dizem elas, "a gente muda a formulação!" (pausa para pensar) "Aaaaaah! Pelo menos hoje não estamos por baixo!" Está melhor agora, ó comentador anónimo sexo-paranóico? (pronto, pronto, já sei que estão naqueles dias...)
Celebra-se o Dia Internacional da "Gaja". Sim senhor, soa bem... Ora deixa-me cá reflectir sobre o assunto... (pausa para inclinar o tronco, colocar o cotovelo sobre a perna e apoiar a testa nos dedos semiabertos). Bem, muito há para dizer acerca de tão fascinante criatura. É mãe dedicada, é esposa presente, é amante imparável, é adorável pessoa que também é profissional de mérito. É uma força da natureza. Tão diferente do homem. Sim, porque o homem, essa vil e fraca criatura, apenas é pai babado, é marido demente, é amante esgotável, é execrável sujeito que também tem um emprego. É uma forca desnaturada. E, assim sendo, as veneráveis mulheres, são elevadas ao estatuto de "entidade a comemorar com dia especial". Porque...?
Agora a sério: na minha maneira de ver, tudo o que precisa de ter dia mundial específico passa a estar (inconscientemente) assinalado como fenómeno social minoritário. E se há coisa que as mulheres não são é minoria. Aliás, lá diz a teoria árabe de que para cada homem há um conjunto x de mulheres: sete e meia na terra, 60 virgens no céu de Alá, segundo a ideologia bombista (parênteses para teoria dentro da teoria: primeiro, já é difícil juntar 60 virgens; segundo, se as encontram no céu, também não vão retirar grande prazer, pois é um local espiritual e sagrado; terceiro, mesmo que as tais virgens estivessem lá em carne e osso e loucas por ter alguma coisa com o servo de Alá, seria difícil, uma vez que autoexplodir-se não é das melhores maneiras de iniciar um relacionamento próximo). Não sou defensor da poligamia, mas percebo a lógica: com o excesso de mulheres (relativamente ao número de homens) e a tendência crescente para a homossexualidade, se calhar o mundo vai ser obrigado a isso! Assumo que as mulheres terão necessidade de se queixar, de denunciar situações de discriminação e de injustiça; mas isso é a lógica de qualquer sistema social plural, para qualquer sexo, raça ou credo - reivindicar os seus direitos, oportuna e comprovadamente. Não é preciso é que haja um dia designado em que se façam gigantescas odes às virtudes do feminino, mas em que simultaneamente as apresentemos como "coitadinhas" e merecedoras de "peninha" comiserante.
Alto! Mulheres, parai de atirar coisas ao écrã do computador! Eu não estou a reduzir a vossa importância...aliás, quero mais é que vocês floresçam, lindas e viçosas, quais alfaces em dia de Primavera...bonito, hem? (nota do autor: irei continuar a falar no plural, mas o que se segue, "gaja minha", é para ti em particular) Admiro-vos, muito. Pela emoção e paixão que são capazes de colocar no que fazem (coisa que os homens dedicam basicamente aos jogos de futebol); pela capacidade que têm de suportar a dor sem grandes lamúrias (e é aqui que nos levam de vencidos valentemente, pois um homem é incapaz de suportar, sem enormes queixumes, uma mísera dor de dentes...se o acto de dar à luz dependesse do homem, garanto-vos que a espécie humana estaria extinta num instante!); pela beleza radiante de um sorriso iluminador (coisa que os "gajos" só têm se souberem que vão ter "acção"...). Desiludam-se aquelas que julgam que não reconheço a vossa predisposição inata para pequenos conflitos (nomeadamente com outras mulheres), a ausência do gene novas tecnologias no vosso ADN ou a vossa shopping-dependência...É melhor parar, enquanto ainda há equilíbrio virtudes/defeitos...
Mas (saída airosa!) tudo isso faz parte do vosso encanto e é tudo isso que a nós homens nos atrai (isso e uns seios atraentes, que, como é sabido, são sempre um factor essencial na caracterização psicológica...) Viva as gajas! E como diria um paranóico amigo meu: viva os gays! (Ãh???) Sim, porque quanto mais gays houver, mais gajas sobram para os restantes!

segunda-feira, março 06, 2006

10 anos de Marradas

Olho, estarrecido, para a cena. Meia-dúzia de adolescentes mais ou menos imberbes a delirar de riso perante as imagens que o dvd "amanda" para o écrã de televisão. E vêem, revêem e voltam a ver... Eu juro que tento entender, mas não dá. E passo a apresentar os meus argumentos. Logo para arrasar: o dvd dá pelo brilhante título de "10 anos de Marradas." Sim, leu bem. Assim à partida, na onda de um humor nonsense que está na moda, até podia fazer-nos esperar uma comédia inteligentemente disparatada. Mas, qual quê! O dvd consta da seguinte brutalidade: uma colagem, sem grande nexo organizacional, de uma hora e tal de imagens de touradas (nos Açores, segundo me parece), em que os bovinos bichinhos, livres das limitações de uma arena e seguros por uma corda de resistência mais que duvidosa descarregam forte e feio nos "macho men" que se lhes atravessam à frente, resultando a maior parte desses encontros imediatos em grandes ferimentos nas criaturas humanas (humanas ou quase, dado que o aspecto animalesco de algumas dessas "pessoas" levanta dúvidas...). E então é vê-los, a deixar cair a "mine" e a "sande de coirato", enquanto tentam não servir de bucha ao agitado tauríneo. Ou então observamo-los, corajosamente, a tentar aguentar-se dos intestinos ou da bexiga enquanto as extremidades córneas do toirídeo lhes tentam arrancar partes essenciais para a procriação. Eu até consigo conceder que, se fosse apenas uma ou duas cenas do género, com a comicidade inerente a qualquer queda mais ou menos gravosa, ainda se aceitava, no espírito "Isto só vídeo", estando estas tropelias entremeadas com bébés aos saltos, noivas em aparatosos escorreganços ou acrobacias aquáticas. Bem, até vou dizer mais: acho que inclusivamente o "OlhóVídeo" na descontrolada versão com Cláudio Ramos era melhor do que isto. Mas setenta minutos consecutivos de marradas à séria, pernas partidas e sujeitos inconscientes?... E os tais teenagers conseguem rir de gargalhada e conseguem ver o tal dvd repetidamente, mesmo sabendo que as cenas não são um qualquer filme de 3ª categoria, são muito reais, tão reais que dá para perceber que bastantes daqueles sujeitos, na ânsia de provarem a sua masculinidade, acabam a piar bastante fininho (dada a localização das marradas) ou mesmo a sangrar abundantemente ou a nem sequer se mexer. E quem é que se lembra de fazer um dvd assim? Talvez alguém cuja idade (mental, se não real) é também a de teenager inconsciente e irresponsável, que disfruta de um gozo quase "snuff" (filmes com assassinios reais) ao observar tais momentos de sado-voyeurismo. É isto ou não o extremo da paranóia da chamada "reality TV"? Eu cá acho que sim. Gostava era de ver esse realizador lá à frente do animal; ou então estes fanáticos espectadores. Tinha tanta piada assim? Ou será que...? Hmmm...Bem, agora que penso melhor, até tem a sua piada...para o toiro!