Influências Marklianas ou "O Vício de fugir da estúpida racionalidade do quotidiano rumo à idiotice lógica do Planeta Markl" (uf!)
É quase uma compulsão. É praticamente uma cerimónia. Sintonizar freneticamente a rádio, no horário certo, para enriquecer (ou não!) a mente com coisas divertidamente "parvas", vindas da insana cabeça pensante do inimitável Nuno Markl tem, para boa parte dos jovens ouvintes de rádio, tanto de prazer como de obrigação. E perder os seus devaneios, nem que seja por uma vez, é um sacrilégio (quase comparável a perder o relato dos jogos do glorioso!) Numa sociedade portuguesa tão desorientada, tão regida pelo princípio da "energumenice", pelo qual se dá visibilidade às piadéticas (não)personalidades cor-de-rosa e se privilegia um humor "chéché", a única coisa que realmente faz sentido é rir, a bandeiras despregadas (que raio de expressão estranha!), com piadas geniais acerca do absurdo do dia-a-dia. Ao escutarmos Markl, com as suas discorrências verbais que retratam as tropelias da sua vida, podemos constatar que, como o próprio já admitiu, nunca seria um bom profissional de stand-up. Para esses comediantes, o objectivo passa por: a) tentar fazer alguma crítica social; b) imitar personalidades famosas; c) cantar coisas com alguma piada; d) limitar-se a contar, de forma mais ou menos expressiva, com mais ou menos palavrões, umas quantas anedotas já batidas. O "profeta" (antes conhecido como "Homem Que Mordeu o Cão") foge a qualquer uma destas classificações, joga com todas elas e a todas supera. É certo que há alguns argumentos que favorecem a minha preferência por este humorista: para já, trabalhou lado a lado com a Ana Lamy (e talvez seja por isso que desde aí o seu ânimo está sempre nos píncaros!); depois – e talvez mais importante – é preciso não esquecer que Markl tem um humor trintão, em função do qual analisa, busca, rebusca, baralha e volta a dar, em tudo o que se refere a uma geração na qual me incluo. E sinto-me bem por me rever nas experiências por ele contadas e por constatar as influências semelhantes que tivemos. Já me cansa aquela noção das rádios "muita loucas", em que se que fala sempre com ar cool, para um público "bué de jovem", que não faz a mínima ideia do que foi nascer nos anos 70, ser adolescente nos anos 80, assentar nos anos 90 e olhar para o descalabro dos anos 00 (é assim que se diz?!). Salvé, Markl, por teres exaltado sempre os "bons velhos tempos", fazendo-nos rir das parvoíces e exageros dessas décadas e retirando do baú recordações (musicais e não só) muito gostosas. Todas as teorias são um delírio, mas aprecio particularmente tudo o que respeita à nostalgia que sempre pontua as suas crónicas, sejam elas mais romancizadas ou mais autênticas. E depois há os livros, a escrita humorística, os programas de televisão. Aquela cabeça…Apesar da idade para ter juízo, Markl parece recusar-se a acinzentar. Não obstante o sucesso, Markl continua a surpreender, sempre. Pelo absurdo ou pelo óbvio. Por nos fazer rir dos outros ou de nós próprios. Pelo fairplay de se rir de si mesmo. Markl forever.
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