Experiência Madrilena
Visito Madrid em duas ocasiões e fico espantado. Mas não apenas no sentido positivo. É claro que contemplo, de olhos quase esbugalhados, esta cidade grandiosa, com uma imponência que resulta do casamento entre a sua longa história e a modernidade da sua vida cosmopolita. (É uma espécie de prolongamento do enlace entre o pesado príncipe Felipe e a muy fresca Letizia...) É óbvio que abro a boca de espanto (Aaaaaaaaaaah...) perante os gigantescos e bem preservados edifícios de ar respeitavelmente centenário (ou bi...ou tri...ou poli...). É lógico que me deixo assoberbar pela densidade de museus por metro quadrado e pela riqueza cultural que neles se encerra. ("Olha, fui ao Prado."; "Ai sim? Então e já estás curado?" No comments.) É indiscutível que me surpreendo pelas dimensões quase-faraónicas (ou será hercúleas?...) das manchas verdes que oxigenam a capital de nuestros...medios-hermanos. E já agora (porque não admiti-lo?), é inquestionável que me faz alguma confusão a quantidade de estabelecimentos comerciais de marcas multinacionais que nos assalta, em ruas consecutivas e que lança, sem piedade pela escassez da carteira lusa, o ardil do "Compra aqui qualquer coisita!", em esquinas e avenidas vizinhas, num sem-fim de apelo consumista. Tudo o que é grande, é mesmo em grande. Mas, quando eu, como a maioria dos Tugas, já preparava a minha conversão ao "espanholismo" e estava prestes a achar que realmente os Espanhóis estão melhor que nós em tudo...eis que me salta à vista (e não a vista...) o pormenor. Olho para o chão (sim, para o chão!) e reparo...A única coisa que faz concorrência ao aparente luxo de tudo aquilo que atrás referi é...(rufo!)...adivinharam! O lixo. Ao contrário do que a se possa pensar, de facto, senhoras e senhores, meninos e meninas (niños y niñas, chiquitos y chiquitas, chavalos y chavalitas), é o caos. As estações de metropolitano são o exemplo acabado (e "acabado" é a palavra exacta...) da badalhoquice que pauta a vivência nesta cidade. E não é só a sujidade inerente ao espaço em si, resultante de fumos e outras substâncias libertadas. São os papeis pelo chão, os azulejos engordurados, o sufocante odor de um sistema de aquecimento certamente programado para a Lapónia. Apre! Mas em algumas ruas, o caso não melhora:(pede-se aos leitores mais susceptíveis que vão agora apanhar ar...) há até locais em que alguns cidadãos decidem transformar uma escada num urinol público, com direito a poça tipo lago Ness (com "monstro" castanho incluído) e a cheirinho Patchouly. E os cafés e pastelarias? Bem, nem vos conto. Ou melhor, conto (senão para que é que estava a escrever?). Se passarmos de manhã cedo, o aspecto dos estabelecimentos até que nem desmerece. Agora, meus amigos, se passarem durante a tarde, irão perceber porque é que eles chamam "bodega" a esses locais. É um remoínho de guardanapos e beatas no chão de tal ordem que é difícil de descrever. Por falar nesses estabelecimentos de cariz alimentício, fiquei desolado com as "especialidades" espanholas. Pensava eu que a cocina aqui do lado seria tão rica (ou mais) do que a nossa dieta sopengo-bacalhoeira, mas qual quê! É só sandes e petiscos. (Valha-nos a paella!) Passei por um conjunto grande de restaurantes e a diversidade...Diós mio! Bocadillos, tapas e doces enlatados...Tapas, bocadillos e doces embalados...Doces empacotados, tapas e bocadillos... Nem sei como é que os clientes se conseguem decidir...Mil vezes preferíveis os morfes cá do burgo!...
Realmente, lá diz o povão e com razão: "De Espanha, nem bom cheiro, nem bom cozinheiro!" Hmm...Parece-me que há qualquer coisa que não bate certo neste dito...Bem, mas o povo é que sabe.
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