O título explica tudo, não? São teorias cá do Ventura, bem-aventuradas (se os visitantes assim o quiserem) e, apesar de paranóicas, até farão algum sentido. E...na pior das hipóteses, pelo menos darão para sorrir.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Mais perto do que é importante


Rede, saldo e bateria. Podia ser o título de uma canção do José Cid (tipo “Ontem, hoje e amanhã”), mas não é. São mas é as preocupações fundamentais da esmagadora maioria dos adolescentes (e de cada vez mais pseudo-adultos…) da sociedade portuguesa actual.Uma conversa de liceu que não inclua estes vocábulos é concerteza retirada de uma escola do século passado – bons velhos tempos esses, em que as pessoas conversavam cara-a-cara, escreviam cartas ou se telefonavam pela rede fixa. Nessa era dourada as pessoas não passavam o tempo a mandar parvas mensagens SMS por tudo e por nada, a fazer figuras de urso à procura da desejada rede, a gritar sozinhos no meio da rua ou a desmontar as desgraçadas máquinas porque se acabou a bateria e é preciso (como se disso dependesse a sobrevivência!) encontrar alguém que nos empreste outra!Há quem argumente: “Pois, mas isso é um fenómeno mundial, são os custos do progresso, pa ta ti pa ta ta…” Qual custo do progresso, qual quê!!! Para os poucos que ainda não sabem, Portugal é talvez o único país em que há mais telefones celulares do que o número de habitantes! Sim, leu bem: MAIS TELEMÓVEIS QUE PESSOAS! Isto leva-me a duas questiúnculas: 1- “Quem foi o parvo que disse que o país está em crise?”; 2-“Para que raio é que o Português médio precisa tanto de telemóveis?”Um estrangeiro com acesso a estes dados tiraria duas conclusões: 1- o nosso país é muito rico e tem condições de vida invejáveis; 2- o nosso país está cravado de homens/mulheres de negócio. Que outras razões lógicas pode uma pessoa civilizada apontar como justificação para esta praga? Como é que esse estrangeiro poderia acreditar que miúdos que alegam falta de rendimentos familiares (que nem material escolar têm), andam na escola a exibir telemóveis topo de gama? Como é que poderíamos fazer alguém perceber que, em famílias abrangidas pelo Rendimento Mínimo Garantido, todos os membros possuam celulares, usando boa parte do dinheiro (que sai dos nossos bolsos!), para pagar os carregamentos? Não…não dá para entender, pelo menos para um observador externo. No entanto nós por cá sabemos da ilógica do pensamento tuga, no qual impera esse vício tão portuguesito do show off. Um lusitano que se preze vai a qualquer sítio de telemóvel na mão, ostentando a sua “máquina” para mostrar aos mais ricos que também tem, que também pode. O problema é que não deve. Ou melhor, muitas vezes até deve…deve mas é as contas em atraso na mercearia! Agora deixar de ter o telemóvel, isso é que não!Não discordo que, nesta sociedade de consumo, as pessoas devam ter determinadas comodidades, se conseguirem. Não obstante, dois pontos: 1- o telemóvel não deveria constituir uma necessidade prioritária para uma boa porção de pessoas (e é nessas que a obsessão é mais visível); 2- mesmo podendo efectuar esse tipo de compras, qualquer indivíduo deve ser racional, duas vezes (lógico e poupado). Pelo andar da carruagem, qualquer dia um puto de 2 anos que agora não tenha télélé com câmara hi-tech, 300 toques polifónicos amaricados e 1358000 cores, vai ser considerado um desgraçado por outros que até passam fome, mas têm um XPTO-3G turbo!É por isso que os telemóveis deveriam ter carta de condução – se é preciso requisitos para usar um “auto” que é móvel, o mesmo deveria passar-se com um “tele” que é móvel. Só aos 18 anos deveria ser permitido, após um exame que comprovasse a sanidade mental do indivíduo, ter o primeiro telemóvel, um “ligeiro” que servisse funções basicamente de comunicação. Aos 21 anos, se não tivesse havido grandes infracções, poderia passar a transitar com um modelo mais “pesado”, com outras características. E por aí adiante.Por isso espero sinceramente (mas com poucas esperanças) que venha a reduzir a quantidade de telemóveis oferecidos às crianças. Comuniquem com eles directa e pessoalmente; talvez a mensagem seja entregue de forma mais rápida, porque a voz e os gestos são mais importantes. E nunca têm falta de rede, saldo ou bateria.